Sobre o MUTABIS
esboçamos o que somos a partir de nossas experiências como psicanalistas em diferentes contextos institucionais, passando pela pesquisa acadêmica, até a sustentação da psicanálise no espaço público
Nesse trajeto, fica clara uma forma de pensar a psicanálise que não é distante de uma invenção do que pode ser o “público”. E isso ganha um relevo de resistência política no contexto atual: um cenário nacional e global que, infelizmente, está cada vez mais identificado com a junção entre o neoliberalismo e o fascismo, estes que parecem se tornar naturalizados num discurso corrente.
Dessa forma, procuramos subverter a experiência que acumulamos anteriormente ministrando cursos particulares, que, embora feitos com valores muito acessíveis, nos colocava diante de horizontes que hoje sabemos ser bem menos interessantes que os atuais: pensar a formação e transmissão em psicanálise perpassados desde o início pela invenção e disputa do que seria o “público”. Mesmo em uma cidade em que até as praças estão sob a vigilância “privada”, de olhares segregacionistas. Descargas nessa vida privada!
A perspectiva de sustentar a presença de iniciativas de formação em psicanálise nas praças da cidade não se dá somente por ser uma forma tática de ampliação do acesso. Se dá também pelo intuito de poder marginalizar a psicanálise, isto é, na aposta de que possa advir a potência transformativa do que é marginal.
A partir de nossa cinza cidade natal - São Paulo -, onde pegar a marginal é poder acessar bairros e centros livremente, propomos ir pela marginal na psicanálise como estratégia de transmissão. Na cidade das fronteiras labirínticas, desobstruir e criar acessos "da ponte pra cá" e pra lá se afirma como direção política para uma psicanálise que se proponha ela mesma acessível e marginal.
O trabalho de sustentação de um espaço de estudos na Praça Roosevelt, paralelo às ações da clínica do coletivo “Psicanálise na Praça Roosevelt”, vem desde 2018 nos dando um entusiasmo inventivo do que seria uma outra forma de vislumbrar horizontes. Este trabalho, para nós, é uma forma de manter o respeito pelas singularidades, tendo como alicerce a renúncia à dominação das diferenças e do outro. Vemos ampla potência em fazer vigorar esses horizontes na divulgação e na sustentação de um trabalho que se dá nas praças e agora também nos grupos de estudos online, atuais e que estão em fomento.
Entendemos, desde 2020, que as mudanças ocasionadas pela pandemia da Covid-19 e a consequente virtualização dos contatos, trouxe desolação e complexificou os mecanismos de controle e vigilância social. Mas a partir disso vimos também uma possibilidade de subversão do território físico. A mesma rede virtual que vigia, exclui e controla os acessos, há de nos servir como plataforma para alcançar mais longe do que os limites da cidade cinza. Temos em vista expandir essa forma de atuação, aprimorando-a no sentido de pensar o que pode ser uma formação em psicanálise hoje, em meio às contradições e dificuldades inerentes a um cenário político e social amplamente reacionário e conservador. Para isso, contamos com os múltiplos coletivos que sustentam trabalhos numa direção comum à nossa.
Nosso desejo é fazer do Mutabis, cada vez mais um espaço inter-coletivos para a invenção e sustentação de uma psicanálise marginal